sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ide e Pregai!

Ó Senhor, quem narrará vossos grandes feitos? Quem proclamará todo vosso louvor? (SI106,2)
Todas as aparições de Jesus ressuscitado terminam com missão apostólica. A Madalena, diz o Senhor: 'Não me retenhas. ..mas vai ter com meus irmãos e dize-lhes que vou para meu Pai e vosso Pai' (Jo20, 17) ; às outras mulheres: 'Ide dizer aos meus irmãos que vão à Galiléia, e lá me verão' (Mt 28, 10). Os discípulos de Emaús, embora não tenham recebido ordens deste gênero, apenas Jesus desaparece, sentem-se impelidos a retomar o caminho de Jerusalém para referir aos onze 'o acontecido' (Lc24,35). Segundo Marcos, que refere em síntese estas aparições, tais mensagens foram acolhidas com desconfiança: os discípulos 'não queriam crer' (16,11.13). Também Lucas, acerca das informações das mulheres, diz que 'suas palavras pareceram-lhes desvario e não lhes deram crédito' (ibidem, 11).
É justamente a esta resistência em crer que Marcos se refere no seu sucinto relato da aparição de Jesus aos onze: 'e repreendeu-os por sua incredulidade e dureza de coração, por não terem dado crédito aos que o viram ressuscitado' (16, 14). e a mesma repreensão dirigida aos discípulos de Emaús: 'O estultos e lentos de coração em crer!' (Lc 24,25). A repreensão do Senhor, justificada pelo fato de que ele mesmo predissera várias vezes aos seus o que iria acontecer, é ulterior confirmação de que a fé na Ressurreição, professada pelos Apóstolos, não nasceu em momento de exaltação reli. giosa, mas se baseia em experiências pessoais, porquanto cada um deles pode dizer-se testemunha ocular.
Só depois de ter assegurado a firmeza de sua fé, Jesus dá aos discípulos a grande missão: 'Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura' (Mc16, 15). Agora que receberam do Ressuscitado todas as provas da realidade de sua ressurreição, devem ir anunciar o Evangelho a todos os homens. Com a ressurreição, de fato, 'a boa nova' da salvação universal de Deus, por meio de Cristo, está enfim consumada e deve ser divulgada em todo o mundo, para que se torne história de cada homem.
“Ide e pregai'.A missão implantada no coração dos Apóstolos pelo Senhor ressuscitado e fecundada pelo poder vivificador do Espírito Santo no dia de Pentecostes tornou-se decisão irrevogá- vel de sacrificar a vida na pregação do Evangelho.
“Vendo a franqueza de Pedro e de João' ao testemunharem a ressurreição de Jesus e ao atribuírem ao poder do Ressuscitado a cura milagrosa do coxo, os chefes do povo e os sumos sacerdotes os proíbem 'de falar ou ensinar em nome de Jesus'. Mas os dois, com santa audácia, replicam: 'não podemos calar o que vimos e ouvimos' (At 4,13-20). Como calar a verdade de que tinham sido testemunhas? Tinham-na ouvido dos lábios de Jesus, Filho de Deus, nos anos de convivência com ele, viram-na confirmada por numerosos milagres e pela suprema prova: a ressurreição. Impossível negar pelo silêncio o que viram e suas mãos tocaram. Como Pedro e João, assim os outros Apóstolos iniciam a pregação que, em pouco tempo, se expandirá para além da Palestina, alcançando a Asia Menor. a Grécia, a Itália e conquistando para Cristo homens de todas as culturas, classes, raças.
Do mistério pascal de Jesus nasce a Igreja e nasce como força apostólica destinada a transformar o mundo. E o fermento de vida nova, vida divina que emana do Senhor ressuscitado e quer penetrar toda a massa da sociedade humana para transformá-la em sociedade cristã, viva da própria vida de Cristo. Cada fiel está empenhado nesta empresa, é dever proveniente do batismo, do dom da fé recebido gratuitamente de Deus e que não pode reduzir-se a privilégio pessoal, mas ser compartilhado com os irmãos. O fiel cristão propagará a fé e pregará o Evangelho na medida em que levar em si, em todos os momentos da vida, os sinais de Cristo ressuscitado! Todos os que o encontram e tratam com ele deveriam poder dizer: 'Vi o Senhor!' (Jo20,18).
Eduardo Rocha Quintella

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